sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

É... e agora José? E agora, 2011?

"E agora José? E agora, você?"
Carlos Drummond de Andrade

 É, primeira postagem incomum de 2010, dessa vez sem literatura e sendo pessoal :D
 O que é agora? Pra mim (e acho que pra mais umas 200 pessoas pelo menos \o/) não é o fim de apenas uma década, é o fim de um ciclo mágico de três anos chamado Juarez. Foi legal os três anos, no primeiro, com a Itaparica e a minha cara de "gorila estuprado" que eu tinha como delicadamente o André comentou um dia aê. Foi legal o segundo com Mênfis, alternativas e décadas (*o*). E foi legal o terceiro com a Deméter, o Fundão, a Equipe Azul e uns assuntos que não podem ser ditos aqui... xD
 Foi bonito esse ano, deu pra evoluir bastante. Aprendi um monte de coisa boa, tipo o significado de amizade, a escrever "textos críticos undergrunds" (como a Ana disse uma vez) e a fazer dancinha de Gogo Boy :O. E eu nem esperava essas coisas :D
 E... o final? Agradecimentos praqueles que passaram desde outubro acompanhando esse negócio aqui, e eu juro que as postagens semanais serão semanais e não mensais ;D. Valeu André, Teixeira, o Mister, o Duh, às Marília, os Rod's, a Anna, a Ana, a Grungie, a Fabi linda e todo o povo que fez valer a pena esses três anos ;D.  
 E agradecimentos pros anônimos que fizeram parte da vida, pra parentada, pras namoradas, pro Sesc, pro Sesi, pro Metal Motos pelo aniversário mais desconcertante que já fui, pro Coc por ser uma fonte rentável e confiável de cinco reais dos meus pais por prova e tchans e tal...   ;D
 Eeeee... preparem-se pra recomeçar mais um ciclo de emoções ano que vem e tal, com novas aventuras (a minha vai ser a faculdade, e a sua?). Espero que eu possa ir com o maior número de amiguinhos possível pra lá *-*...   E montar a Santa Bertoleza com a engenharia do Mister, equipá-la com armas químicas de autoria do Duh e armas biológicas de minha autoria (brincadeirinha, Conselho Regional de Biologia e Juízes do Nobel xD), além de isolar certos genes como as das pérolas das ostras e de características de mulheres como o André pediu, enquanto ele cria um viagra de cinco horas sem efeitos colaterais... e claro, sempre inventando um novo modo de destruir a futura carreira de embaixador do Teixa, seja divulgando um declaração dele contra todos os Direitos Humanos ou então postando no Youtube algum futuro vídeo dele tendo relações homossexuais com alguém. Nossa, vida de faculdade bem corrida, né?
 E... bom acabou. D: Aproveite bem essas últimas cinco horinhas de 2010 pra fazer um balanço pra 2011 (mor conselho repetido esse ¬¬') e depois coma bastantinho e veja o céu explodindo em cores enquanto seus cãezinhos morrem de dor e sofrimento com o som dos estouros...   :/   Até 2011 (amanhã)!


 Ouroboros, o símbolo de evolução eterna e bichinho que eu uso numa corrente no meu pulso :D
 Vamos adotar seu significado e sempre evoluir nesses ciclos anuais? xD

domingo, 26 de dezembro de 2010

Realidade

“Nunca me convencerá a mudar o meu modo de vida, reverendo William! Acredita realmente que eu, Ominous Jane, a mais valente e influente corsária já existente, iria me render a uma vida de cozinhar e costurar para um homem? E aproveite a viagem e diga a John, aquele covarde, que eu sei que ele me prefere como noiva, em detrimento da doce e respeitável Mary. Mas eles são o casal que mais merece ter a respeitável, comum, inaceitável e desinteressante vida que essa sociedade sem imaginação nos impõe...”

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“Imagino o que meus pais me diriam agora, Anthoine, se me vissem agora! Chamaram-me de iludida, ingênua, louca, quando larguei a medicina para me dedicar às artes! Não é mais o velho conservador Asclépio que me orienta mais – agora estou entregue às musas da literatura, música e atuação! Não sigo as imposições sociais da vida estável! Na verdade, sou muito mais estável e verdadeira sendo uma pessoa diferente por dia...”

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“Soldados, ergam seus gládios e rumo ao combate! Temos conosco a força dos deuses! Ares, Atena, Deméter, Zeus e Hefesto derramam suas bênçãos sobre nós hoje! Não somos apenas humanos subalternos em uma lida rotineira e sem emoções – cada dia temos o incomparável sabor dos combates, um diferente do outro! Podem me chamar de louca, mas digo: é melhor morrer de pé que viver de joelhos...”

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 - Mas doutor, como ela está?
 - Lamento, sem melhoras significativas. Sua loucura cresce a cada dia. Aparentemente ela foi uma corsária há três dias, uma atriz há dois e uma general grega ontem. O estranho é que ela diz sempre não estar obrigada a ser presa em nenhum caderno de normas imposto pela sociedade...

domingo, 5 de dezembro de 2010

"Desculpas" ou "Sobre as nossas forças"

 Há, em cada um, uma força que nos motiva a sermos vivos. Uma força que apresenta asas, para sua elevação.
 Essa força alada convive com outras ao seu redor, sempre ascendendo. São tão numerosas quanto os humanos e, como tais, brigam, debatem-se e competem para alcançar a melhor posição em seu vôo. Em meio dessa contenda a maioria perde as asas e cai ao solo e, consequentemente, a visão da realidade. Passam a nutrir-se de simples opiniões a partir daí, enquanto suas asas crescem novamente.
 Há ainda outras forças que, para elevar-se mais rápido, utilizam diversos recursos. Puxam seus rivais para baixo em busca de impulso. Alimentam a competição entre as outras para limpar seu caminho. Fazem juras, utilizando-se da inocência alheia, para conseguir apoio. Essas não caem, tampouco ascendem – permanecem estagnadas.
 E existem aquelas que se associam a outras almejando apoio, mas um apoio mutuamentente benéfico, ao contrário do grupo anterior. Quase todas se enquadram aqui. São aquelas que aceitam servir de ânfora, mesmo sabendo que os segredos de suas companheiras poderão deixar-lhes ais pesadas. São as que aceitam servir de apoio, mesmo sabendo que o peso extra poderá momentaneamente impedir-lhes de subir. São aquelas que fogem à regra geral das forças e não entram em conflito com as forças às quais se associam.
 Mas infelizmente esse grupo de forças são as que acabam por ferir mais as asas dos companheiros, por pequenas ações aparentemente sem significado. Ferem por exteriorizar emoções muitas vezes não reais, ou exageradas. Ferem por falas não pensadas para serem ditas. E esses ferimentos acabam sendo mais danosos que as grandes investidas de terceiros.
 O incrível paradoxo é que, sob o efeito dos primeiros fatos citados esse grupo é o que se eleva mais velozmente, enquanto que sob o efeito dos últimos fatos, elas pouco caem, mesmo com as grandes agressões sofridas, devido à sua suma capacidade de reconhecer o arrependimento e sua suma piedade.

 O estranho é que essas forças não sabem o porquê de serem impelidas sempre a ascender. Há as que acreditam que serão, de algum modo, recompensadas por uma entidade superior; há as que crêem que é simplesmente sua obrigação voar, sem ninguém para está-las esperando; há aquelas que têm fé de que obterão o conhecimento de todos os assuntos da humanidade; e há outras, com outras crenças.
 Para finalizar, há ainda os resíduos soltos pelas forças, sendo essas tanto já extintas (mortas) ou ativas. Esses produtos podem acelerar ou retardar o desenvolvimento das asas, caso desenvolvam a cultura ou desenvolva desejos animais e primitivos nas forças, respectivamente. Esses resíduos podem ser escritos, sonoros, visuais, ou manifestações corporais. Cabe a cada força escolher o que irá utilizar e para qual finalidade.
 E agora? E você, em qual tipo de vôo está, quais são seus resíduos e quais são seus motivos para elevar-se? É muito fácil enganar-se.

domingo, 28 de novembro de 2010

Essência

 Bendito sejas aquele que te elogiou quando cantastes. Bendito sejas aquele que te ajudastes a fazer aquela sua apresentação aos seis anos, e igualmente bendito sejas aquele que te ensinastes os detalhes da vida. Benditas sejam aquelas amigas às quais confiastes teus segredos e divertiram-lhe em  inúmeros momentos, assim como aqueles amigos que sempre apoiaram-te estando sempre ao teu lado. Benditos sejam os mestres que te ensinaram todas as ciências dos conhecimento humano. Benditas sejam aquelas entediantes palestras que vistes, benditos sejam aqueles  pequenos acidentes que sofrestes, e benditos sejam os curtos diálogos com desconhecidos nas ruas.
 Benditos sejam os desentendimentos que passastes com as pessoas. Benditas sejam as suas ex-amizades assim como seus ex-namorados. Bendito seja até aquele seu período de depressão e solidão. Benditas sejam aquelas separações forçadas e até as traições que sofrestes ao longo da tua vida.
 Bendito seja tudo. Pois, se assim não fosse, eu não conheceria seu caráter assim como tu és.

domingo, 14 de novembro de 2010

"Efemeridade" ou "Sobre o impacto dos fatos"

 Então, ali estava ela. A Imperdoável. A Imperatriz do mau desígnio. Ali estava, sentindo, embora impossível e incompreensível para os humanos.. Aquecendo-se. Gostando. SENTINDO.
 O tocar do piano. A vibração das cordas. O retumbar das percursões e dos metais. Então era essa a sensação que nunca pudera sentir, embora cotidianamente ouvisse todos ao seu redor comentando. O deleite. O prazer, quase palpável, à sua frente. Coisa que nunca pensara ser possível, algum dia, possuir.
 Acabou. Embora tivesse durado algumas horas, era como se houvesse passado alguns minutos. Ficou e divagou sobre a efemeridade da vida enquanto todos ao seu redor se retiravam.
 Desceu ao palco. Seu longo e ósseo dedo (ao menos assim a representavam) deslizou nas cordas do violino. Lembrara dos tempos nos quais  diziam que possuía um violino. Pegaria e tocaria, valsaria talvez, para se lembrar.
 Surpreendeu-se. Não saíra um som lúgubre, tampouco as notas lamuriais que saíam séculos atrás. Na verdade ouvia um som doce. A quebra das fronteiras. O frio tornara-se quente. O duro, macio. A Imperdoável, Compassiva. Era uma antítese viva.
 E acabou o solo. Pegou sua antiga companheira diamantina, sua negra capa e saiu.
 Deixaria esse trabalho para a próxima vez.
 Nada é tão efêmero que não deixe marcas.

domingo, 7 de novembro de 2010

Prosa - José Saramago


 "Um escritor é um homem como os outros: sonha." 
José Saramago

 José Saramago foi, é e sempre será um grande escritor português. Único escritor  em língua portuguesa a ganhar um Nobel, foi um dos principais responsáveis pelo reconhecimento internacional da literatura lusa.
 Conhecido por seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português. Enfrentou duras críticas e perseguições religiosas pela publicação de alguns livros, como O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Caim, nos quais apresenta dura crítica ao catolicismo. Mas, mesmo apesar do ateísmo, Saramago afirma que a "Bíblia tem coisas admiráveis do ponto de vista literário" e "muita coisa que vale a pena ler", estando, dentre elas, os Salmos, com páginas "belíssimas", o Cântico dos Cânticos, e a parábola do semeador contada por Jesus; entretanto ainda diz que ela é um "manual de maus costumes", cheio de "um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana".
  Utilizou um estilo oral, herança dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correção de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento.
 ROMANCE
 Deixou um legado inestimável em obras literárias, que vão desde críticas pesadas a livros infantis. Entre suas obras, destacam-se Ensaio Sobre a Cegueira, Ensaio sobre a Lucidez, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento (com o qual ganhou o Nobel), As Intermitências da Morte, A Jangada de Pedra, O Ano da Morte de Ricardo Reis, entre outros.
 Ensaio Sobre a Cegueira: Esta obra faz uma intensa crítica aos valores da sociedade, e ao que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população.Saramago mostra, através desta obra intensiva e sofrida, as reacções do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono. Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja”…
 Memorial do Convento: Narra a história de Baltasar Sete Sóis e Blimunda Sete Luas durante a construção de uma passarola (máquina voadora) guiada pelo padre Bartolomeu, simultaneamente com a construção do convento de Mafra. Extremamente ácido contra o Estado português na Idade Média e contra a Igreja Católica, violenta e corrupta, o leitor é levado à uma revisão dos parâmetros que regiam a sociedade passada e às restrições ideológicas, fato que se vê principalmente nas cenas dos monólogos de Bartolomeu, e no trágico fim de Baltasar Sete-Sóis. 
 As Intermitências da Morte: Supondo um país em que a morte resolve "parar de trabalhar" para ensinar os humanos como seria a vida eterna, Saramago realiza uma ácida crítica social. Fiel ao seu estilo e ainda mais sarcástico e irônico, vai além de reflexões existenciais, fazendo uma dura crítica a sociedade moderna ao relatar as reações da Igreja, do Governo, do Clero, dos repórteres, dos filósofos, dos economistas, das funerárias, da máphia, etc. Ao meio da obra, a morte retoma seu trabalho, mas o interrompe novamente após conhecer um violoncelista que não consegue morrer...
FRASES/CITAÇÕES

 "Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute nesse mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute."
 "Eu, no fundo, não invento nada. Sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros."
 "Estamos usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando só o que é preciso pensar, o que se nos permite pensar."
 "Quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos."
 "A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem."
 "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."

Mulher

 Então, era isso. Não esperara por isso. Ao menos, não tão abrupta e inesperadamente. A mudança. O início da metamorfose. Agora deixaria de ser a pequena lagarta para tornar-se um ser mais complexo, e apenas o tempo diria se se tornaria a Aquerontia atropos de Saramago ou uma nova e clássica espécime, talvez seria uma Papyllon afroditus ou ainda uma Harmonitia innocentia.
 Então, significava isso. O poder total. Capaz de comandar e ordenar aqule ser dito "o ápice da evolução", o nomeado homem. A feliz possuidora das mais eficazes estratégias, as quais as legiões de César e os soldados de Alexandre se entregariam com os maiores prazer e solicitude.
 Agora, sabia. Uma simples palavra, e controlaria com destreza aquelas criaturas, meio físicas e meio emocionais, literalmente aqueles centauros. A idéia a fez sorrir. Revoadas de borboletas comandando centauros.
 Agora, depois desse evento batizado erroneamente pelos homens, esse evento que deveria chamar-se metamorfose ou ao menos desabrochar, estava pronta para pensar mais claramente e agir mais eficazmente como nunca.
 Agora estava pronta para agir como mulher.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Homem

"As feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental."
Receita de Mulher - Vinícius de Moraes

 Havia sido elogiado. E havia sido criticado, também, embora nunca se preocupara com isso. Mas vira.
 Sim, era bonito. E sabia . Além do mais, gostava. Diziam por aí que Narciso acha feio o que não é espelho. Uma grande mentira, oras. Vira e pensara que elas eram belas, com suas formas consagradas pelo tempo. Éclogas corporais. Sonetos faciais. E todo o restante.
 Achava-as realmente belas? Ou era apenas uma auto-valorização? Bem, não sabia. Não necessitava saber, aliás, desde que fossem realizadas as mostras obrigatórias diárias. Dose diária de nutrição para os olhos dos outros. Estava fazendo o favor secular sempre exigido pela maioria.
 E vira. A imagem clássica, naquele momento, sem o sentido religioso o qual a massa conhece e julga ser correto. A pomba com  o ramo de oliveira. Naquele momento sabia a interpretação correta, aquela vinda da antiguidade. E vira.
 Fora gerado a partir de conceitos idealizados pelo tempo. Não eram simplesmente Afrodites e Dafnes que o circundavam. Eram (ou deveriam) ser mais. Haveriam Penélopes e Cassandras também. Haveriam mais que simples ânforas.
 Mas, sabia. Não adiantaria estarem repletas, tampouco. Se fosse apenas isso, estaria sendo hipócrita consigo mesmo. Ainda era necessário o externo. Era preciso aquela forma, consagrada pelo tempo.
 Estava simplesmente sendo homem.

Arqueossência

 "...Um desejo jamais inteiramente realizado no ato de amar,
porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de um
instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse
explicar, que seu anseio seria completamente satisfeito."
O Mito dos Andrógenos

 Recordava-se. O que acontecera anteriormente? Sucessão de fatos ilógicos sem sentido. Ou seria  exatamente o contrário? Bem, não sabia. Recordou-se então.
 A visão. A determinação. A dúvida. A confiança. O desconforto. A desenvoltura, a confiança novamente. A aproximação, o contato. 
 Doses de adrenalina. Um suspense suspenso, sabia que entrara em um labirinto único, e isso duraria sua vida inteira. A descoberta de algo novo. O retumbar das valquírias nórdicas. As expressões artísticas das musas apolíneas em seu corpo. Estava em seu ápice .
 O contato. A sensação. Estava completo, tal como o fruto da união de Hermes e Afrodite, desde que estivesse naquele abraço íntimo onde cada parte de seu corpo encontarava um correspondente no outro ser, desdde que estivesse naquele abraço íntimo pelo qual vidas começam e poderiam vir a ser aniquiladas. As falas, ancestrais, repetidas por pessoas desde tempos imemoriais por pessoas imemoriais naquele mesmo instante. A falta da necessidade de promessas. O mundo perfeito, memso que por apenas nanosegundos. A sensação. O prazer. Nunca o sentira daquele modo.
 Terminara sua recordação. Olhara para a direita. Estava contemplando sua antípoda, sua representante do lado oposto. E sabia. Sabia, e tinha perfeita consciência disso, que provavelmente seria fogo aquilo, que seria eterno enquanto estivessem juntos mas que, inevitavelmente, apagaria, mas não se importava, pois tinha alguém que conseguia satisfazer aquele antigo desejo de completar o que estava incompleto. Tinha agora sua quintessência. Era corpo e alalma, mente e carne. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ensaio

 Andava. Pra onde? Não sabia. Suas pernas a guiavam. Andava pela cidade que nunca a havia incomodado, tampouco agradado. Via, ouvia e sentia aquele mundo. Via os prédios, os mendigos, a poluição, uma tapeçaria negra e cinza. Ouvia as falas ancestrais, as críticas, as ofensas e as intrigas que alimentavam o mal humano. Sentia as monções humanas, formigueiro antrópico, ondas de náusea e calor que se avolumavam ao seu redor. E não se incomodava. E não pensava.
 E chegou. Ali, como um Eldorado verde oculto na selva de pedra e ferro. Uma fonte antiga, de águas esmeraldinas e uma estátua ao centro lembrando Hebe proibida de ceder seu líquido salvador às criaturas inferiores. Belos e bons bancos brancos figuravam ao redor do lago, todos esquecidos e desocupados pelo Tempo. Exceto um.
 Um cego. Com seu cão-guia alvíssimo, sem coleira. Coisas boas não precisam de nome para serem completas. Ela via-os. Talvez por instantes. Talvez por séculos. E eles levantaram-se e foram embora.
 E ela sentou-se no banco do Cego. Ficou ali. Instante? Sáculos? Não sabia. O importante é que agora via, ouvia e sentia. Via a sua cegueira branca. Ouvia sua surdez branca. Sentia a sua falta de tato branca.
 E um cão aproximou-se. E ele afagou suas mãos, seu nariz e seus olhos. E ela levantou-se com o cão, segura, comfiante, pensante. Nunca estivera tão certa, e tão bem acompanhada. Confortava-se com aquele cão e a sensação que sentira. Quais eram seus nomes? Não sabia. Coisas boas não precisam de nome para serem completas.

domingo, 17 de outubro de 2010

"A Última Refeição" ou "Amizade"

Vamos, estenda-me e dê-me tua mão. Antes, estenda-me e dê-me teu antebraço e depois teu braço. Permita-me servir-te de psicólogo quando estiveres em depressão, deixe-me servir-te de colunas e atlas quando ameaçares ruir, aceita-me para servir-te de mestre quando necessitares de ajuda, embora tu saibas mais que eu.
 Igualmente permita-me servir-te de arlequim quando alegre, deixa-me servir-te de sólida rocha quando necessitares de uma base e, finalmente, aceite-me para servir-te como ânfora para depositares tua confiança e de aluno para ensinar-me, embora eu saiba mais que tu.
 Vamos, estenda-me e dê-me tua mão, teu antebraço e teu braço. Guiaremo-nos mutuamentepor este caminho negro e íngreme, luminoso e suave. Não desespere-tes caso percamos tato. Não perderemos. Não desespere-tes caso percamos audição. Não perderemos. Não desespere-tes caso percamos visão. Não perdermos.
 Vamos, estenda-me e dê-me tua mão, teu antebraço e teu braço. Estarei aqui para ajudar-te a concluir O Pensador de Rodin. Estarei aqui a tentar evitar a morte da fênix e a incentivá-la e garantir que renascerá. Estarei aqui a ajudar-te a vencer Iago e garantir que ficará apenas Santo. Por fim, estenda-me e dê-me tua mão, teu antebraço e teu braço. Estarei aqui para ajudar-te a planejar, preparar, cozinhar, consumir e limpar esta última refeição a qual chamamos de vida.

Outro

 Mudara. E sabia. Sabia o quanto? A aparência? O pensamento? Os dois? Ou era uma impressão?
 Pensou em si no começo. Amizades? Nenhuma. Beleza? Nunca se preocupara com isso. Produto da alienação das massas. Inútil discutir isso agora.
 Mas mudara. O que teria feito isso? Lugar novo? Relações novas? Não sabia.
 No  primeiro, tudo igual. Amizades? Nenhuma? Beleza? Não se peocupara com isso. Exceto por isso ou aquilo?
 Segundo, tudo igual. Amizades? Exceto por esse, aquele, este e aquele lá, nenhuma. Aparência? Exceto por isso ou aquilo ou ou esse aí, não se preocupara.
 Terceiro, tudo igual. Amizades? Exceto por esse, aquele, este e aquele lá, tinha. Aquele sensação quente, iluminadora. Aparência? Exceto por isso ou aquilo ou esse aí, era bonito.
 E aconteceu. O fogo. O tremeluzir das luzes, mas via apenas as sombras. Apenas os demônios dançantes nas paredes. O que acontecera? Os demônios dançantes e cantantes e jubilantes. Tinha olhos apenas para eles. Mas ainda havia aquele corpúsculo brilhante.
 E vira. Estivera ali todo aquele tempo? Aquela fênix dançante e cantante e jubilante. Não Percebera, mas podia sempre contar com ela. Via. Sentia. Gostava. Mudara.
 Afinal, RENASCERA.

Mímico

Era mais um dia comum na Avenida Paulista. Carros, pessoas, ávores, prédios, mendigos, estruturas, praças, preto-e-branco, barulho, ordem pré-estabelecida...
 Até que apareceu. Um mímico. Branco-e-preto, toques de vermelho em uma obra bicolor. Uma manifestação física da metafísica, inesperada, diferente. no seu silêncio, imã da atenção barulhenta do mundo, executava movimentos com o mesmo afã daqueles que foram considerados loucos por ouvirem a música que a maioria não ouvia.
 Atraiu a massa. A massa que atraía a massa, em um ciclo sem fim. A massa hipnotizada, talvez encantada?
 Do modo que começou, acabou. Aquele ponto de insanidade (?) foi abafado pela sanidade. A ordem mantida.
 Onde eu estava? Era mais um dia comum na Avenida Paulista. Carros, pessoas, árvores, ´prédios, mendigos, estruturas, praças, branco-e-preto, silêncio, caos organizado...

Calvin & Hobbes - Bill Watterson

Calvin é um garoto de seis anos de idade cheio de personalidade, que tem como companheiro Hobbes, um tigre sábio e sardónico, que para ele está tão vivo como um amigo verdadeiro, mas para os outros não é mais que um tigre de pelúcia. De acordo com algumas visões, as fantasias mirabolantes de Calvin constituem frequentemente uma fuga à cruel realidade do mundo moderno para a personagem e uma oportunidade de explorar a natureza humana para Bill Watterson.













Bolo "Sociedade atual"

INGREDIENTES (massa)
- 4 xícaras de hipocrisia
- 3 colheres de intolerância
- 1 copo americano de fanatismo religioso
- 400 ml de vaidade, soberba, ira, luxúria, gula, avareza e preguiça previamente descansados
- 2 líderes influentes preocupados com seus próprios interesses
- 1 colher (chá) de utopia (opicional para dar impressão de sabor melhor)
INGREDIENTES (cobertura)
- 4 colheres de preocupação ambiental
- 1 órgão mundial que (aparentemente) serve ao mundo
- 2 xícaras de incentivo à cultura e educação
- 3 colheres de pluralidade étnica, religiosa, psicológica e física

MODO DE PREPARO
 MASSA: misture tudo e bata no liquidificador. Cuidados não são necessários. Acrescente ferozmente a hipocrisia para a massa crescer. Asse durante 5.200 anos.
 COBERTURA: cozinhe delicadamente os ingredientes para evitar desnaturações. Ainda quente, cubra a massa assada.
 Serve aproximadamente 8 bilhões de pessoas.

Mafalda - Quino

Mafalda é uma personagem criada pelo cartunista argentino Quino. É conhecida por ser preocupada com a humanidade, com a paz mundial e por se rebelar com o estado do mundo, além de ser considerada iracunda. Trago aqui algumas tirinhas, afinal, HQ também é cultura! ;D










Rosa

Vi ontem, ao alvorecer, uma rosa vermelha se abrir. Seria um bom título de livro sobre a Primavera dos Povos: "O desbrochar da rosa vermelha - o comunismo como doutrina no séc. XIX", como tão galantemente faria Drummond em sua Rosa do Povo. Ouentão seria interessante para abordar taxonomia em aspectos botânicos: "Efeitos do luar sobre o florígeno em Rosacea rosa". Ou quem sabe uma análise química seria atraente também: "A química do amor: ésteres e ácidos carboxílicos que encantam os apaixonados". Por que não uma tentativa literária? "Do Barroco a Augusto dos Anjos - simbologias amorosas envolvendo rosas". Talvez uma revolucionária: "A rosa negra da burguesia apenas servirá ao povo após tinta no sange da revolução". Ou então pensamentos geográficos, renascentistas, genéticos, computacionais, franceses, tchaikovescas, zoroatristas, machadianas, robespierrinas, vegetativas, ufólogas, comunistas, capitalistas, gastronômicas, físicas, radioativas, alienígenas, toxicológicas...  Ou simplesmente humana: vi ontem, ao alvorecer, uma rosa vermelha se abrir.