"As feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental."
Receita de Mulher - Vinícius de Moraes
Havia sido elogiado. E havia sido criticado, também, embora nunca se preocupara com isso. Mas vira.
Sim, era bonito. E sabia . Além do mais, gostava. Diziam por aí que Narciso acha feio o que não é espelho. Uma grande mentira, oras. Vira e pensara que elas eram belas, com suas formas consagradas pelo tempo. Éclogas corporais. Sonetos faciais. E todo o restante.
Achava-as realmente belas? Ou era apenas uma auto-valorização? Bem, não sabia. Não necessitava saber, aliás, desde que fossem realizadas as mostras obrigatórias diárias. Dose diária de nutrição para os olhos dos outros. Estava fazendo o favor secular sempre exigido pela maioria.
E vira. A imagem clássica, naquele momento, sem o sentido religioso o qual a massa conhece e julga ser correto. A pomba com o ramo de oliveira. Naquele momento sabia a interpretação correta, aquela vinda da antiguidade. E vira.
Fora gerado a partir de conceitos idealizados pelo tempo. Não eram simplesmente Afrodites e Dafnes que o circundavam. Eram (ou deveriam) ser mais. Haveriam Penélopes e Cassandras também. Haveriam mais que simples ânforas.
Mas, sabia. Não adiantaria estarem repletas, tampouco. Se fosse apenas isso, estaria sendo hipócrita consigo mesmo. Ainda era necessário o externo. Era preciso aquela forma, consagrada pelo tempo.
Estava simplesmente sendo homem.
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