"Um escritor é um homem como os outros: sonha."
José Saramago
José Saramago foi, é e sempre será um grande escritor português. Único escritor em língua portuguesa a ganhar um Nobel, foi um dos principais responsáveis pelo reconhecimento internacional da literatura lusa.
Conhecido por seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português. Enfrentou duras críticas e perseguições religiosas pela publicação de alguns livros, como O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Caim, nos quais apresenta dura crítica ao catolicismo. Mas, mesmo apesar do ateísmo, Saramago afirma que a "Bíblia tem coisas admiráveis do ponto de vista literário" e "muita coisa que vale a pena ler", estando, dentre elas, os Salmos, com páginas "belíssimas", o Cântico dos Cânticos, e a parábola do semeador contada por Jesus; entretanto ainda diz que ela é um "manual de maus costumes", cheio de "um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana".
Utilizou um estilo oral, herança dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correção de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento.
ROMANCE
Deixou um legado inestimável em obras literárias, que vão desde críticas pesadas a livros infantis. Entre suas obras, destacam-se Ensaio Sobre a Cegueira, Ensaio sobre a Lucidez, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do Convento (com o qual ganhou o Nobel), As Intermitências da Morte, A Jangada de Pedra, O Ano da Morte de Ricardo Reis, entre outros.
Ensaio Sobre a Cegueira: Esta obra faz uma intensa crítica aos valores da sociedade, e ao que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população.Saramago mostra, através desta obra intensiva e sofrida, as reacções do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono. Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja”…
Memorial do Convento: Narra a história de Baltasar Sete Sóis e Blimunda Sete Luas durante a construção de uma passarola (máquina voadora) guiada pelo padre Bartolomeu, simultaneamente com a construção do convento de Mafra. Extremamente ácido contra o Estado português na Idade Média e contra a Igreja Católica, violenta e corrupta, o leitor é levado à uma revisão dos parâmetros que regiam a sociedade passada e às restrições ideológicas, fato que se vê principalmente nas cenas dos monólogos de Bartolomeu, e no trágico fim de Baltasar Sete-Sóis.
As Intermitências da Morte: Supondo um país em que a morte resolve "parar de trabalhar" para ensinar os humanos como seria a vida eterna, Saramago realiza uma ácida crítica social. Fiel ao seu estilo e ainda mais sarcástico e irônico, vai além de reflexões existenciais, fazendo uma dura crítica a sociedade moderna ao relatar as reações da Igreja, do Governo, do Clero, dos repórteres, dos filósofos, dos economistas, das funerárias, da máphia, etc. Ao meio da obra, a morte retoma seu trabalho, mas o interrompe novamente após conhecer um violoncelista que não consegue morrer...
FRASES/CITAÇÕES
"Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute nesse mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute."
"Eu, no fundo, não invento nada. Sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros."
"Estamos usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando só o que é preciso pensar, o que se nos permite pensar."
"Quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos."
"A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem."
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."

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