Então, ali estava ela. A Imperdoável. A Imperatriz do mau desígnio. Ali estava, sentindo, embora impossível e incompreensível para os humanos.. Aquecendo-se. Gostando. SENTINDO.
O tocar do piano. A vibração das cordas. O retumbar das percursões e dos metais. Então era essa a sensação que nunca pudera sentir, embora cotidianamente ouvisse todos ao seu redor comentando. O deleite. O prazer, quase palpável, à sua frente. Coisa que nunca pensara ser possível, algum dia, possuir.
Acabou. Embora tivesse durado algumas horas, era como se houvesse passado alguns minutos. Ficou e divagou sobre a efemeridade da vida enquanto todos ao seu redor se retiravam.
Desceu ao palco. Seu longo e ósseo dedo (ao menos assim a representavam) deslizou nas cordas do violino. Lembrara dos tempos nos quais diziam que possuía um violino. Pegaria e tocaria, valsaria talvez, para se lembrar.
Surpreendeu-se. Não saíra um som lúgubre, tampouco as notas lamuriais que saíam séculos atrás. Na verdade ouvia um som doce. A quebra das fronteiras. O frio tornara-se quente. O duro, macio. A Imperdoável, Compassiva. Era uma antítese viva.
E acabou o solo. Pegou sua antiga companheira diamantina, sua negra capa e saiu.
Deixaria esse trabalho para a próxima vez.
Nada é tão efêmero que não deixe marcas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário