Inspirado no filme homônimo, Black Swan (Cisne Negro)
Acabara suas tarefas, e agora sua mãe lhe deixara fazer algo pra distrair-se. Olhou ao seu redor. Por algum motivo (e custava para descobrir a razão) seus brinquedos de cinco anos atrás não a atraíam mais. Ligou a televisão então.
Incrivelmente, havia apenas a mesma cena em todas as emissoras. Quer dizer, não a mesma, mas quando se trata de determinadas situações tudo acaba convergindo para o mesmo plano. Deveria, mas não queria para de ver. E viu.
Depois encontrou uma pena negra no chão.
Dias depois, saiu com suas amigas. Foi engraçado. Todas sedutoras, impertinentes, independentes, e ela ainda infantil, subserviente e sob os cuidados da mãe. Igual a uma ave. Mas ali não queria saber disso. Se divertiu, as amigas lhe “ensinaram” a seduzir, dançou um a dança nunca dançada antes, com movimentos impensados e hipnóticos, bebeu não apenas o líquido de Dionísio como também a bebida dos russos e outras mais. No fim da noite, suas companheiras lhe parabenizaram.
Depois encontrou um pequeno amontoado de penas negras na mesa.
E continuou experimentando novas sensações e ações que sempre haviam sido proibidas pelos seus pais anos e anos e anos a fio.
E após a conclusão de cada ato, encontrava amontoados de penas negras no chão.
E finalmente começou a pensar. Em tudo. Sobre tudo. Do porquê de tudo.
Por que a sociedade prega a subserviência? Apenas os que obedecem estão certos? Será que é para garantir a ordem?
Talvez esse não fosse o motivo. Pessoas que desde pequenas são submissas são mais fáceis de serem controladas depois, por aquelas figuras tããããããão respeitosas e respeitadas. Na verdade, essa obediência hereditária acaba sendo uma preparação para o meio de alienação do povo. Alienação, criada sem querer nas famílias para ser muito bem recebida na sociedade conservadora religiosa.
Encontrou uma asa negra em seu braço.
Por que todos dizem desejar a castidade, a inocência? Por que todos acabam sendo hipócritas ao valorizarem uma coisa, mas quererem realmente outra? Por que todos exibem socialmente uma imagem à qual seu verdadeiro eu não condiz?
É estranho realmente. Todos erram. Mas todos acabam escondendo seus erros. Acaba até sendo engraçado como muitos homens dizem querem casar com uma mulher virgem, mas se dedicam ao máximo para conseguir fazer sexo com o maior número de pessoas possível. É cômico ver que durante o dia a mídia exalta o puro e o intocável, mas à noite muda sua posição e passa músicas, histórias, e agora até um filme sobre uma garota de programa, vejam só. Chega ao ponto de divertido. Todos elevam o Cisne Branco às maiores altitudes – apenas para depois matá-lo e adorarem ao Cisne Negro.
E encontrou o Cisne Negro no lugar de seu corpo.
Agora estava certa. Completa. Perfeita. Era quente e frio, luz e sombra, pureza e sedução. Era agora o Cisne Branco e o Cisne Negro, sem a hipocrisia social.
Agora ela estava louca. Agora ela pensava.
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